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Nem a velha, nem a nova, mas a boa política

Por: Daniel Trzeciak

A política nunca vai acabar. Ela é meio de transformação social, não fim. Maus políticos é que não devem (ou não deveriam) integrar a política. Enquanto cidadão, o voto é nossa arma. É a única capaz de alterar democraticamente o estado de coisas. Deve ser bem utilizada, portanto. 

Outra saída é sair da inércia; sair do conforto da crítica e da passividade para integrar ativamente o sistema político. Pode não ser o melhor dos cenários para muitos, mas certamente é uma das ferramentas mais valiosas que nos coloca ao alcance de mudar cenários. Há outras formas de agir, é verdade – como trabalhos voluntários e não governamentais –, mas que, decididamente, vez ou outra se utilizam (e precisam) da política eletiva para fazer andar seus propósitos de luta por uma causa. Como na atividade política, uma coisa é certa: há entidades e pessoas extremamente sérias, assim como há organizações de duvidosa idoneidade.

O que nos cabe diante disso? Fazer parte, tomar partido e decidir. Mudar um sistema estando dentro dele é mais fácil do que atuar por fora. Há pouco mais de quatro anos, nem sempre me vendo representado nas ações de meus candidatos após serem eleitos, optei justamente por sair da inércia. E digo: sempre há espaço.

Penso a atuação política baseada em alguns pilares básicos: diálogo, transparência e responsabilidade com o uso do dinheiro público.

Quando falo “diálogo”, refiro que a proximidade com a população não deve ocorrer só em época de eleição. O político tem que estar perto da população, ouvindo, conhecendo realidades e debatendo alternativas aos problemas. E não só. É uma via de mão dupla. O político também deve trazer à população a discussão e a possibilidade de interferir em grandes temas, grandes pautas. Quanto mais se ouve, menos a gente erra: é o mantra que persigo na vida pública. Iniciativas de meu mandato enquanto deputado federal têm esse objetivo. Recentemente, o “É Só Chegar” veio para formalizar e concretizar o que venho pregando desde o início de minha caminhada: gabinete de portas abertas. Poder chegar, sem hora marcada, levar a demanda ou a sugestão e falar “olho a olho” com quem votamos. É algo simples, mas muitas vezes esquecido. Estar presente e fazer-se presente, ao alcance da população que elegeu o candidato como seu representante. Não é nenhum favor, e sim obrigação de cada um que se propõe a servir ao público.

Nesse sentido ainda da proximidade, a iniciativa do “Deputado Convida” tem o condão de levar a população a interferir na tomada de decisões. Oportunidade de dizer a quem está no comando o que a população deseja. A ação pavimenta a mão dupla do diálogo a que me referi acima, encurtando distâncias.

No campo da transparência, penso como dever de todo político prestar contas, não temer represálias por ter adotado posicionamento impopular ou por ter agido contra determinado segmento com força corporativa, ou ainda por ter usado o dinheiro público em alguma situação diversa da recomendada. A transparência também tangencia a coerência, e protege (ou deveria proteger) cada um contra a conveniência político-eleitoreira. É fácil pregar no discurso e esquivar-se na prática. É conveniente ceder a pressões de grandes grupos e votar contra aqueles que não têm voz organizada nos corredores palacianos. Cobrar transparência, entendo, também é cobrar coerência.

Se o combate aos privilégios, por exemplo, é bandeira de luta, tem que ser coerente. Se há – como houve – uma reforma da previdência em debate, e tenho a convicção de que ela seja necessária a reorganizar as contas públicas, não posso me dar ao luxo de estar na previdência especial parlamentar. Foi pensando assim que abri mão desse privilégio de deputado e estou, desde sempre, contribuindo para o regime geral do INSS.  

Mais do que isso. Se existem auxílios perversos à disposição de todo parlamentar, coerente é renunciar a eles. Também foi pensando assim que doei todo o auxílio-mudança a que teria direito em prol do pronto socorro do município de Pelotas-RS, assim como doo anualmente todas as milhas aéreas decorrentes de viagens a trabalho em prol de entidades assistenciais do Rio Grande do Sul. Enquanto os projetos que coíbem tais pagamentos não são aprovados no Congresso Nacional, fazer o que está ao nosso alcance é fundamental. Grandes exemplos em pequenos gestos. Grandes mudanças começam de dentro para fora.

O último pilar elencado acima – o da responsabilidade com o uso do dinheiro público – é muito caro e diz muito para mim. Se ainda falta bastante para corrigir rumos da desigualdade e da (in)justiça social existentes no país, novamente eu repito, que comecemos pelo que está ao nosso alcance imediato, por menor que seja o impacto. A iniciativa do “poupômetro” veio com essa ideia. Contabilizo ali a economia do gabinete ao longo dos meses, para chamar atenção do quanto cada parlamentar poderia dispor para custear ações do mandato. Recurso legal, amparado em orçamento e normas internas, mas extremamente custoso aos olhos do cidadão pagador de impostos. Respeitá-lo é gastar o essencial, sem desatinos. É assim que enxergo a cota parlamentar. É legítimo cobrar dos outros a eficiência dos gastos, assim como deve ser coerente que o uso de recursos públicos que esteja sob nosso poder também seja investido de forma eficiente. Ou será que há diferença entre discurso e prática? No meu caso não há.

Enfim, trago aqui considerações que entendo pertinentes ao exercício de um mandato. Com a convicção de estar fazendo tudo aquilo que sempre cobrei de meus candidatos, sigo e persigo na mesma batida de que a política pode ser diferente, se diferentes forem nossas ações e nossos comportamentos.


- Artigo publicado originalmente na revista Lideranças https://www.facebook.com/RevistaLiderancas/


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